O Regime Militar, Ditadura Militar, regime de exceção, ou Ditadura Civil-militar independente da nomenclatura, foi o período da história brasileira em que os militares governaram o país entre os anos de 1964 a 1985. Esta época ficou marcada pela falta de liberdade de expressão, forte censura supressão de direitos constitucionais, perseguição política e repressão àqueles que não concordavam com o sistema político implantado pelos militares.
O golpe que se concretizou em 1964, foi consequência de uma sucessão de fatos políticos, que a tempos se vinha desdobrando em tentativas de se tomar o poder. Anos antes já havia ocorrido uma tentativa de golpe, quando tentaram impedir as eleições que levou Juscelino Kubitschek à presidência, no entanto a tentativa foi impedida pela ação do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, que garantiu a realização das eleições e posteriormente a posse de JK. Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, que permaneceu no poder por apenas alguns meses, por motivos que até hoje não são bem esclarecidos, há rumores que seria uma tentativa infrutífera de um autogolpe, quem automaticamente subiu ao poder foi o vice-presidente João Goulart, o que de certa forma gerou descontentamento entre segmentos contrários ao populismo de Vargas. Goulart era considerado sucessor político de Getúlio Vargas e ainda cunhado de Leonel Brizola, uma das suas principais bandeiras era a realização das reformas de base, incluindo a reforma agrária.
Ele estava na China quando recebeu a notícia da renúncia de Jânio Quadros e era informado também da tentativa de militares impedirem sua posse. Ranieri Mazilli assumiu interinamente a presidência, assim uma campanha radiofônica articulada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, a chamada "Cadeia da Legalidade", fez crescer o apoio população e com isso garantiu a posse de Jango. No entanto alguns parlamentares de tendência liberal, entre eles Raul Pilla, tradicional defensor do parlamentarismo no Brasil, se articularam, com o intuito de encontrar uma solução para a posse de Jango, ele seria presidente, mas não governava. O governo estaria nas mãos do Presidente do Conselho de Ministros, com isso, não desagradariam os apoiadores de Jango, nem os que eram contraria à sua posse. Jango pôde assim exercer a função de chefe de estado, mas o governo estava nas mãos de três Primeiros-Ministros.
Já em 1962, forças políticas se mostravam descontentes com o parlamentarismo, e pressionam para que se realizasse um plebiscito, para escolher a forma de governo, parlamentarismo, ou presidencialismo. Isto estava previsto para 1965, ano das eleições presidenciais, mas o descontentamento, de grande parte do povo e das classes dirigentes fez com que este plebiscito fosse realizado em 1962. O não ao parlamentarismo, era a opção mais defendida, apoiada tanto por progressistas quanto por esquerdistas e até alguns conservadores. Dessa forma, os eleitores escolheram o presidencialismo.
Goulart começou a governar, agora com poderes fortalecidos, tentando conciliar os interesses da esquerda com os interesses dos conservadores, não querendo se indispor com nenhuma das partes, mas, como não é possível agradar gregos e troianos, seu governo acabou gerando o descontentamento de ambas as partes.
Desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961, o Brasil vivia um momento de fragilidade e a instabilidade política. Jango assumiu a presidência da republica em um clima político extremamente tenso, e em meio a uma crise econômica. Devido à perda de tempo, e na demora em implantar as reformas de base, os grupos de esquerda, inclusive dentro do próprio PTB começaram a se afastar do governo e atuar em protestos reivindicativos. Como mostrou o historiador Jorge Ferreira, Jango se encontrava em uma corda bamba, onde não podia contar com o apoio nem da direita e nem das esquerdas.
‘’Para a direita civil-militar que tomou o poder em 1964, Goulart era um demagogo, corrupto, inepto e influenciado por comunistas. Motivos suficientes, portanto, para o golpe de estado. Para as esquerdas revolucionarias e a ortodoxia marxista-lenista, o presidente era um líder burguês de massa, uma liderança cuja origem de classe marcou seu comportamento dúbio e vacilante, com vocação inequívoca para trair a classe trabalhadora”(FERREIRA 2008,p.345)
Como foi citado acima, o golpe de 1964, não foi um golpe militar, mas sim civil-militar, as reformas de base pretendidas por Jango representavam um ameaça aos interesses das classes dominantes, e ainda dever ser mencionado o medo do comunismo, o comportamento de Jango, que não tinha nada de comunista, acabou preocupando as classes conservadoras, como empresárias, banqueiros, a Igreja Católica, militares e a classe média.
Não só no Brasil mais todo o mundo vivia um momento tenso, causado pela Guerra Fria e o risco eminente de uma terceira Guerra, o mundo via-se dividido entre as duas correntes ideológicas, o capitalismo e comunismo. Esta guerra ideológica entre duas superpotências USA e URSS, se acerava com o passar dos anos que sucederam o fim da Segunda Guerra Mundial, e exercia influência em varias partes do globo terrestre, no Brasil não foi diferente, nesta época, não havia meio termo, ou você estava de um lado ou de outro, e era este posicionamento que se cobrava de Goulart. Devida a falta de atitude de Jango, os militares decidiram agir, juntamente com alguns setores, muitos deles estrangeiro.
Os Estados Unidos temiam que, um país com a grandeza territorial como o nosso, e em um ponto estratégico se voltasse para o lado da então União Soviética, ainda mais depois da revolução cubana liderada por Fidel Castro. Seu medo não era que o Brasil se tornasse uma Cuba, mas sim uma China, com grande influência e respeito do resto do mundo. Levando em consideração que o exercito do USA havia se mostrado incompetente no caso de Cuba, seria praticamente impossível adentrar o Brasil, caso este se firmasse do lado dos soviéticos.
O golpe de 1964 deve ser analisado dentro da conjuntura dos fatos que contribuíram para a sua efetivação, pois desde 1954 grupos conservadores tentavam um golpe de estado, no entanto sem êxito, como nos lembrou Jorge ferreira, “não basta conspirar, mesmo que com o apoio de potencias estrangeiras. É preciso encontrar uma ampla base social para levar a conspiração adiante.” (FERREIRA,p.347). Assombrados pelo “fantasma comunista” os militares buscaram o apoio de parte da sociedade civil conservadora, da igreja católica tradicionalista, de empresário muitos deles estrangeiros, a CIA e o departamento de Estado norte americano,que deram respaldo. O Partido Social Democrático (PSD), e a União Democrática Nacional (UDN) acusavam João Goulart de estar planejando um golpe esquerdista e o colocavam como o principal responsável pelos problemas econômicos enfrentados pelo Brasil na época.
No dia 13 de março de 1964, João Goulart realizou um grande comício na Central do Brasil no Rio de Janeiro, para defender as Reformas de Base, e prometeu mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país. Seis dias depois, os conservadores organizaram um protesto no centro da cidade de São Paulo contra as intenções de João Goulart, a conhecida Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A partir dai a crise política e as tensões sociais só aumentavam, e no dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saíram às ruas com a finalidade de deflagrar o golpe, para evitar uma guerra civil, Jango deixou o país, e se refugiou no Uruguai.
A Ditadura Militar no Brasil durou mais de vinte anos (1964-1985), este período da nossa historia deixou muitas marcas na sociedade atual, tanto nos meios políticos, econômico e cultural. Os primeiros anos de governo militar, ficaram marcados pela forte repressão àqueles que não concordavam com a forma com que os militares tomaram o poder, muitas pessoas foram presas, torturadas, exiladas e mortas, acusadas de subversivas e de ameaçarem a ordem do país.
Como já foi citado acima, o comportamento dúbio de João Goulart e a ameaça comunista já eram motivos suficientes para os militares realizarem o golpe, no entanto era preciso legitimar tal ação, por este motivo, não poderia ser apresentado à população como um golpe de estado, e sim como uma revolução, pois palavra ‘golpe’ não soaria bem aos ouvidos, e feria gravemente a idéia de democracia, o que não seria visto com bons olhos pelo resto do mundo. Apesar do regime militar não ter sido nada democrático era preciso que aparentasse ser. Mas, como os militares conseguiram se manter no poder por tanto tempo? E ainda com um discurso heróico e o apoio de boa parte da população, mesmo sendo um governo nada democrático? Bem isto foi possível graças a, todo um aparato de construção ideológica propagada por vários meios, com o intuito de atingir as massas, e assim convencer a população de que a “Grande Revolução de 1964” era o melhor caminho para o Brasil.
Os militares começaram criar e articular meios para espalhar pelo país suas idéias, com a finalidade de convencer a população de que a “grande revolução” era a melhor saída para o país, com o intuito de adequarem as pessoas a nova ordem social, foi desta forma que os militares conseguiram se firmar, e se manter no poder. Aqui o sentido de ideologia é entendido como os pensamentos e discurso que as classes dominantes usam para mascarar a realidade (Marx e Engels; São Paulo: Hucitec, 2002.)
Os Militares não permaneceriam no poder por mais de vinte anos, usando apenas a força para reprimir e controlar toda uma sociedade, isto seria impossível, foi necessário criar na mente das pessoas uma idéia de legalidade e aceitação da mova forma de governo, capaz de garantir a legitimidade do golpe, “o controle sobre as idéias era tão ou mais importante que o controle sobre os movimentos sociais” (CERRI, 2003, 40 ). Neste sentido que a educação foi vista pelos militares como o lugar essencial para formar indivíduos dentro da nova ordem político-social pretendida por eles.
Neste contexto de efervescência político-ideológico, os militares precisavam tentar abafar todos os movimentos políticos e a propagação de idéias que ameaçassem seu governo, por esse motivo que os educadores se tornaram um alvo essencial. Os professores são uns dos poucos profissionais, capazes de formar um censo crítico, e despertar a população sobre a real situação política do país, principalmente, os das ciências humanas, por este motivo foram muito perseguidos durante este período, e ,consequentemente desqualificados em sua formação.
Isto fica evidente nas primeiras medidas do governo militar em relação ao sistema educacional, principalmente com as leis 5.540/68 e 5.692/71;a reforma universitária e reforma do 2º grau, respectivamente. Na lei LEI N. 5.692, de 11 de agosto de 1971, fica claro a falta de autonomia que as escolas e os professores tinham na escolha e elaboração dos objetivos, no “artigo 4º parágrafo I - O Conselho Federal de Educação fixará para cada grau as matérias relativas ao núcleo comum, definindo-lhes os objetivos e a amplitude”. No entanto isto não era suficiente, uma vez que a lei no papel é extremamente fria, e não garante por si só uma eficiência, ela precisa ser executada e colocada em pratica, de modo que as pessoas acreditem em sua legitimidade. Com isto é necessário analisar todo o contexto em que uma lei é criada e posta em pratica, assim como sua intencionalidade, necessidade, contexto político, etc, como nos alertou Dermeval Saviani “não basta ater-se à letra da lei; é preciso captar o seu espírito. Não é suficiente analisar o texto; é preciso analisar o contexto. Não basta ler nas linhas; é necessário ler nas entrelinhas” (Saviani, 1993:p.193).
A educação entendida como o ato de ensinar, instruir, orientar e produzir conhecimento, pode se dar de varias formas e lugares, a partir da inter-relação do individuo com o outro e seu meio, mas aqui abordaremos a educação escolar, aquela que se dá no interior das escolas, como nos mostra Wilson de Sousa Gomes. “A educação dita formal em especifico, esta vinculada aos órgãos do poder, da autoridade e dos governos” (BENTO, 2010; p: 98), e foi através da educação que o governo militar procurou formar o cidadão que se adequaria a nova ordem social.
Toda esta preocupação dos militares com o sistema de ensino não foi por acaso, e para a sua eficiência era necessário atingir os profissionais responsáveis pela educação principalmente, os das ciências humanas, por este motivo foram muito perseguidos durante este período, para evitar a resistência que alguns professores tinham em relação a estas mudanças foram criada as delegacias de ensino, posteriormente, para garantir uma maior eficácia o foco foi a formação destes profissionais.
A reforma universitária realizada neste período tinha principal finalidade desqualificar os professores em sua formação reduzindo o senso crítico, no caso específico do ensino de História, ocorreu a implantação das licenciaturas curtas, com a desculpa de suprir a carência profissional no mercado, houve a fusão da História com a Geografia, com a criação dos cursos de Estudos Sociais.
A consolidação dos Estudos Sociais em substituição à História e Geografia ocorreu a partir da Lei n. 5.692/71, durante o governo militar. Os Estudos Sociais constituíram-se ao lado da Educação Moral e Cívica em fundamentos dos estudos históricos, mesclados por temas de Geografia centrados nos círculos concêntricos. Com a substituição por Estudos Sociais os conteúdos de História e Geografia foram esvaziados ou diluídos, ganhando contornos ideológicos de um ufanismo nacionalista destinado a justificar o projeto nacional organizado pelo governo militar implantado no país a partir de 1964. (PCNs, 2001, p.26)
Esta carência profissional se deu pelo fato da expansão do sistema de ensino, e a junção dos antigos cursos primários e ginásio, criando assim o primeiro grau. Os cursos de curta duração tinham a desculpa de suprir rapidamente a falta de profissionais, mais o que de fato aconteceu foi o empobrecimento da qualidade do sistema educacional, atingindo a formação dos profissionais que atuavam nesta área. Desta forma ficaria mais fácil manipular, e exercer controle sobre os professores, fazendo com que eles reproduzissem as ideologias do regime. A reforma universitária realizada pelo governo militar tinha o intuito de formar professores para uma pratica pedagógica transmissora e produtivista, cada vez mais acríticos. (Cerri, 2003; p. 50).
A educação dita formal foi e continua sendo um aparato do estado para disseminar suas idéias, e moldar as pessoas, dentro dos interesses, não só do estado, mais de todos os grupos que exercem influencia sobre ele, pois, em um mundo cada vez mais tomado pelo capitalismo, onde o estado está cada fez mais subordinado ou poder econômico, acaba atendendo suas vontades. Vendo por este prisma, devemos cada vez mais nos perguntar sobre o papel que a educação está realizando nos dias de hoje.
A
fotografia como fonte na História
Com
o passar do tempo os pesquisadores tem ampliado suas pesquisas em relação a
história. Hoje em dia há um arsenal de temas que estão em voga que é de grande
interesse ligado à academia e a população em geral. Tais pesquisas estão
relacionadas a história das mentalidades; a história de vida cotidiana que
trata da história vista de baixo, onde tem por objetivo o estudo da “massa”; a
historia da cultura material que estuda as mobílias de uma determinada época,
as vestimentas, e outros objetos; a história do corpo que é usado para analisar
a mutação das doenças ao longo do tempo como também o conceito de beleza e da
sexualidade.
Atualmente
observam-se inúmeros historiadores
interessados em reconstituir as prováveis existências de fatos e pessoas que
atuaram no passado, com isso tais pesquisadores vem utilizando diversas fontes
para esse trabalho, como fonte oral, cultura material, fonte escrita, áudio
visual, fotografias e etc.
Embora todas essas fontes citadas tem o seu valor
imensurável para o oficio do historiador realizar suas pesquisas, nesse
trabalho pretende-se destacar a fotografia como fonte histórica.
Para
entendermos melhor a fotografia como fonte histórica é necessária os usos
sociais que gerencia o invento fotográfico ao longo dos séculos XIX e XX no
qual contribuíram e muito para a pesquisa.
A
fotografia se inseriu no mercado atendendo uma gama de demandas sociais. O que
contribuiu para isso foi o processo de industrialização onde gerou uma ligeira
produção em série promovendo um baixo custo de tais.
A
fotografia foi inventada pela burguesia onde foi de cunho popular para expor
uma gama de situações, por exemplo:
“Contendo
paisagens de lugares exóticos, de monumentos, de tipos humanos, retratos com
apelos eróticos, paisagens urbanas das metrópoles, imagens chocantes de guerras
e conquistas científicas. No campo da arte, a fotografia ampliou o acesso de
alunos, profissionais e leigos a modelos e a obras de arte antes fruídas
somente in loco ou “reinterpretadas”
por gravuristas em publicações.”
A
burguesia usava de diversos temas propagando uma imensidão de conhecimento relacionado
as imagens, contando com álbuns de celebridades, pessoas antes inacessíveis agora podiam ser
comparadas, corpos que mostravam-se defeitos ou qualidades eram ressaltados, a
postura do corpo e amostras de roupas eram avaliadas. Sendo assim democratizando
a informação, mudando a visão de mundo e ampliando as referências da população.
No
século os retratos fotográficos amadores foram ganhado cada vez mais espaço
propiciando uma diminuição dos álbuns, dando lugar a uma variedade considerável
em relação as imagens fotográficas em geral.
Além
de atender indivíduos e familiares para a construção da autorrepresentação
social; a fotografia também fora utilizada para outros fins como na ciência em
relação em projetos preservacionistas e útil para biólogos e botânicos que
antes desenhavam plantas para exercer um trabalho um trabalho cientifico exigia
mais tempo.
As
imagens fotográficas também foi útil para órgãos Estatais para a conter o
controle da população através das instituições, em especial a prisão:
Uma
das primeiras fotografias de revoltosos foi na comuna de Paris em 1871. em 1851
sugeriu-se o uso da fotografia nas licenças de habilitação para a direção de
veículos a tração animal; em 1853 pensou-se na fotografia de passaporte; em
1854 o inspetor responsável pelo sistema penal francês idealizou um projeto de fotografar os criminosos mais perigosos de deversas penitenciárias,
procedimento que vai acontecer realmente em anos depois.
Esses
são alguns exemplos de como a fotografia teve um incontestável crescimento
nesse contexto.
No
Brasil também não foi diferente, no caso de São Paulo, em meados do século XIX
podemos destacar a produção de Militão Augusto de Azevedo, sendo uma vertente
documentarista, no qual registrou a cidade de São Paulo, aproximando-se então
de Charles Marvelle em relação a tipologia das construções fazendo da produção
de Militão um dos pontos de partida para o conhecimento da cidade antes das
transformações que eliminaram suas características coloniais.
É
interessante que no inicio do século XX um fotografo suíço chamado Guilherme
Gaensly chegou a São Paulo depois de ter atuado em Salvador, desempenhando um
bom papel em relação a documentação urbana.
Diferentemente
de Militão o trabalho de Gaensly destacava-se na questão da modernidade da
cidade de São Paulo, através de inúmeros materiais como álbuns de revistas de
São Paulo (1914), cartões postais e etc.
Como
podemos perceber, a fotografia se inseriu rapidamente na sociedade
contemporânea, exercendo uma presença inconteste no setor público e privado.
Portanto
trabalhar com fontes fotográficas para pesquisa histórica , é importante termos
consciência que existem uma grande diversidade de usos, como: arquivos e
coleções que além de ser encontrados em instituições de guarda ( Arquivos, museus,
bibliotecas e etc.) também encontramos nos seus locais de origem de produção ou
no final do caminho de sua circulação.
Fotografia
e História: Os usos tradicionais
Em
relação à historiografia sabemos que os documentos textuais eram fontes
privilegiadas, senão exclusivas da disciplina. Sendo que poucos historiadores
trabalham com arquivos fotográficos, comparado o numero desses estudiosos que
trabalham em repositórios de documentos escritos e datilografados, e quando
utilizam à fotografia são apenas como simples ilustrações:
Tradicionalmente,
os historiadores têm se referido aos seus documentos como “fontes”, como se
eles estivessem enchendo baldes de riacho de verdade, suas histórias
tornando-se cada vez mais puras; á medida que se aproximam das origens. A metáfora é vivida, mas também ilusória no
sentido que implica a possibilidade de um relato do passado que não sejam
contaminados por intermediários. (BURKE, 2004. p. 34 )
Isso
acontece porque a educação de tais historiadores, tanto no âmbito escolar
quanto universitário, tiveram um treinamento sistemático na leitura de textos.
Isso prova que as fontes textuais, serviam apenas como um documento
complementar para a construção de textos na metodologia positivista.
No
inicio do século XX os historiadores usaram as imagens como estratégia, para
calcar representações de identidade nacional, um exemplo claro é o processo de
construção de representação do bandeirante Domingo Jorge Velho para compor o
Museu Paulista. Numa troca de correspondência entre o pintor Benedito Calixto,
Teodoro Sampaio deixa claro que a função exemplar que as imagens, no caso da
pintura histórica, deveriam desempenhar.
Ao
responder a uma dúvida de Calixto sobre como apresentar Domingos Jorge Velho,
que viria ser o primeiro retrato a óleo de um bandeirante ( 1903), Teodoro
Sampaio esclarece que não importa como, na realidade, se vestiam os
bandeirantes. Estes deveriam ser representados de modo a favorecer a solenidade
que eles devia ser atribuída. O caso demonstra como o retrato tinha a função
não de ser fiel á realidade e sim de, pedagogicamente, incutir no público
visitante do museu o respeito e culto ao personagem histórico. (PINSK, DE LUCA,
2009. p 38 e 39)
Neste
contexto mostra claramente a manipulação da imagem em relação aos leitores.
Em
relação a imagem fotográfica Taunay
forneceu aos pintores fotografias que podiam ser feitas pinturas, no qual
alteraram o conteúdo fotográfico com o objetivo de representar uma cidade como
embrião da metrópole: ou seja figuras de um tropeiro por exemplo, inseridas na
pintura tinha a função de representação de um pequeno núcleo urbano e as terras
interioranas, criando-se então um projeto de representação que focava uma idéia
de fundação da identidade cultural paulistana, paulista e nacional.
A fotografia como níveis de análise
Para
analisar uma imagem o historiador tem que ser hábil saber ler nas entrelinhas,
por exemplo para tratar da fonte fotográfica para investigar uma sociedade, as
análises não pode restringir apenas a uma imagem, mas sim com séries
documentais para saber o contexto dessa determinada sociedade nesse momento,
pois sabemos que nenhuma imagem foi construída por acaso.
O
historiador não pode prescindir de métodos de análise que partam das
especificidades da imagem, mas devem alcançar sempre uma perspectiva plural,
quer dizer, relacionando-a com outras. Além disso, as fontes fotográficas
sozinhas não bastam. A problemática histórica é que deve guiar abordagens das
fontes. ( PINSK, DE LUCA, 2009, p.45)
Além
da habilidade do historiador em enxergar nas entrelinhas e observar o contexto
da época o pesquisador tem que estar atento em relacionar a fonte fotográfica
com outras fontes, para maior entendimento da análise.
Ao
estudar a fonte fotográficas em diversos ambientes é importante destacar a
fotografia âmbito familiar, onde se dá uma construção da memória familiar, tais
ações normativas designado pelo termo de retratistica.
A
historiadora inglesa Márcia Pointon, estudiosa do retrato no século XVIII define a retratistica como os meios pelos
quais diferentes grupos sociais se auto-representam.
O
retrato é uma prática social cultural que é inserida numa rede de comunicação e
atua como em outros processos, na regulagem da sociedade. Ou seja, essa análise
nota-se o teor simbólico em relação por convenções na escolha da cenografia da
pose.
É
importante ressaltar que na fotografia é imposta posturas e gestos dos modelos
e acessórios de objetos carregados de um sentido simbólico de acordo com a
época.
Para
ilustrar podemos citar dois exemplos claros em épocas distintas: o primeiro
exemplo é de Luis XIV nos seus trages de coroação no século XVIII, onde a coroa
é colocada numa almofada em vez de por na cabeça e também é representado o Rei
apoiado no cetro como se este fosse uma bengala.
O
segundo exemplo podemos citar a moda que foi inserida na Belle Époque no final do século XIX aqui no Brasil. A elite masculina do Rio de Janeiro se
apresentava de paletó e cartola e apoiados em bengala. Quanto às mulheres eram
representados em volumes excessivos, pelas penas, rendas e pérolas, babados
bordados, suas mãos eram cobertas por luvas.
Ambos
os exemplos deixam claro uma imagem de representação de poder, mostrando gestos
elegantes que talvez não ocorressem no seu cotidiano.
Por
isso é de grande valia ficarmos atentos a esses tipos de retratos. A pose e a
ambientação não são criações do século XIX mas remontam a tradição retratistica
de séculos atrás. A cenografia guarda semelhanças com aquelas dos retratos do
século XVIII, sobretudo no caso dos elementos arquitetônicos vinculados a
gramática clássica, como a coluna, o pedestal ornado com vasos. A presença da ornamentação clássica remete a
uma associação cultivada pela aristocracia européia que a faz equivaler as
noções de requinte e bom gosto. No retrato fotográfico esses ornamentos
permanecem como significantes ( elementos, plásticos, formas) , cumprindo, no
entanto outras funções e sendo ressignificados por novas práticas urbanas e
grupos sociais em ascensão distinção entre trabalho manual e intelectual,
introdução ao mundo cosmopolita e moderno, elegância e etc.
Trazendo
esta perspectiva para o Brasil das décadas de 30 à 40 um claro exemplo do uso
da imagem como construção da representação de poder, foi o cangaço tendo como
seu precursor no uso da imagem Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como
Lampião e seu grupo.Neste trabalho utilizaremos o termo imagem simplesmente
para referirmos a “representação” pela qual os homens expressam a si próprio e
ao mundo, e o termo imagem fotográfica como objeto portador de imagem.
O cangaço
O
cangaço pode ser delimitado de fins do século XIX a 1940 no interior do sertão
nordestino segundo a socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz, deixando claro
que esta delimitação cabe ao “cangaço independente” localizado somente no
nordeste brasileiro:
o termo cangaço desse período é definido na
literatura para referir se ao bandido que vive debaixo da
canga, o complexo de armas
sobrepondo-lhe o corpo, mas principalmente para referir-se a um modo
especifico de ação independente, em que o cangaceiro estaria subordinado apenas
ao seu bando.(CLEMENTE,2007,PAG.02)
Apesar
do cangaço não se resumir ao Lampião este pode ser considerado o seu maior
expoente, pois ele acabou ofuscando os demais cangaceiros de sua época, pois
acabou se empenhando na construção de sua imagem e a de seu bando, e quando
teve oportunidade soube estabelecer uma boa relação com os jornalistas e
fotógrafos da época, o que ajudou na construção de sua imagem.Ele se torna
chefe do cangaço em 1920 permanecendo ate 1938, quando foi morto juntamente com
Maria bonita e alguns membros de seu bando, em Angico sertão de Sergipe.
As
principais imagens fotográficas,foram produzidas no encontro de Lampião com o
Padre Cícero em 1926 e com o libanês Benjamin Abrahão Botto em 1936.Através
destas imagens procuraremos discutir o motivo das fotografias tiradas pelo
Lampião e qual sua intenção a partir disso.
Analise das fotografias:
Um
dos principais responsáveis pelas fotografias de Lampião e seu bando foi o
fotografo Benjamin Abrahão Botto, que acompanhou o bando na caatinga e realizou as imagens que o
imortalizaram. Para tanto teve a parceria do cearense Ademar
Bezerra de Albuquerque dono da ABAFILM que, além de emprestar os equipamentos,
ensinou o fotógrafo seu uso.
Nesta
foto o fotografo deixa seu posto,e aparece
cumprimentando lampião, para registrar o encontro de Abrahão com o bando de Virgulino, em foto tirada pelo
cangaceiro Juriti. Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado,
Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo),
Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira que aparece a frente de seu bando
e ao lado de Maria Bonita.
Lampião com uma postura ereta,com seus companheiros
todos armados,posando para a foto,percebe-se que foi uma foto intencional,e
qual seria a intenção do fotografo?Que neste caso,é também o fotografado,mesmo
não sendo ele quem apertou o botão da câmera,foi quem construiu a sena,escolheu o ângulo da foto,fez toda a manipulação do
equipamento,etc...Considerando a fotografia como documento,esta foto deixa
claro,talvez mais do que um texto escrito,a permissão e a aceitação de Lampião
para com o fotografo Benjamin Abrahão
Botto.
Lampião
aparece em uma posição de liderança,a frente e bem centralizado em relação com o seu bando,tendo ao seu lado
esquerdo sua companheira Maria Bonita,já
Benjamin
Abrahão aparece com uma postura respeitosa,com uma posição de honra,mostrando
todo o apresso que ele tinha com os cangaceiro.
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